O que você precisa saber para entender a Reforma Tributária
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Para entender a Reforma Tributária

A Reforma Tributária é uma prioridade para o Brasil. Nosso sistema tributário data de 1965, tendo sofrido apenas dois ajustes, em 1967 e em 1988, ou seja, carrega uma série de complicações que tornam o Brasil menos competitivo e atraente a investidores nacionais e internacionais.

Outro ponto grave do nosso sistema tributário é a desigualdade. Hoje, nosso sistema é regressivo, o que quer dizer que os mais pobres pagam, proporcionalmente, mais impostos. Isso gera distorções cruéis no planejamento financeiro da maioria das famílias brasileiras.

Um clássico dos anos 90 definidor da situação tributária atual

A Reforma Tributária é uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro. Sendo assim, em 21 de setembro de 2020, o governo entregou ao Congresso uma proposta inicial (PL 3.887/2020) que deverá tramitar em conjunto a duas outras propostas: PEC* 45/2019 (da Câmara dos Deputados) e PEC 110/2019 (do Senado Federal).

O que é uma Reforma Tributária

Reformulação de impostos e suas formas de cobrança com o objetivo de simplificar a arrecadação, conferir maior transparência ao processo de pagamento de tributos* e corrigir distorções tributárias.

PEC 45/2019 (Câmara dos Deputados)

Institui o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS), por lei complementar, como tributo federal, em substituição a cinco tributos: PIS, Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), IPI (Imposto sobre os Produtos Industrializados), ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) e ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza).

PEC 110/2019 (Senado Federal)

Também institui o IBS, pelo Congresso Nacional, como tributo estadual, em substituição a nove tributos: IPI, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), PIS, Pasep, Cofins, Cide-Combustíveis (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), Salário-Educação, ICMS e ISS.

A PEC 110/2019 trata de pontos mais controversos e que geram dificuldade de consenso, como a questão da modificação do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para abranger também aeronaves e embarcações, com arrecadação total para os municípios.

Complexidade

Atualmente, o sistema tributário do Brasil é composto por 73 cobranças, que geram o equivalente a 35% do PIB. Na Dinamarca, são 14 cobranças para 45% do PIB e na Espanha são 13 para 32% do PIB. Isso mostra que, em comparação com a experiência internacional, o Brasil tem um sistema complexo.

Dificuldades

Um estudo do Observatório de Política Fiscal do IBRE/FGV aponta que a criação do IBS com alíquota de 12% elevaria a arrecadação federal em R$ 50 bilhões. Embora reconheçam ganhos de simplificação e transparência, um grupo de economistas e empresários enxerga que alguns setores e empresas podem vir a pagar mais impostos.

Projeções

O governo projetou uma proposta de reforma dividida em 4 partes:

A primeira já foi entregue e não reduz a carga tributária, apenas simplifica o pagamento da contribuição.

A segunda deve trazer a simplificação do IPI;

A terceira deve mudar o IRPJ e criar a tributação de dividendos;

A quarta deve acabar com a contribuição patronal de 20% sobre a folha de salários e criar uma “nova CPMF”.

Sobre as mudanças na tabela do imposto de renda, uma das principais propostas de campanha de Bolsonaro, não existe consenso. O presidente declarou ainda nesta semana que pretende estender a isenção para quem recebe até R$ 3 mil mensais.

No entanto, Paulo Guedes, ministro da Economia, tem se mostrado resistente ao custo de R$ 22 bilhões anuais.

Reforma Tributária Justa e Solidária

Uma proposta de Reforma Tributária Justa e Solidária foi encaminhada sob a forma de uma Emenda Global Substitutiva à PEC 45, em tramitação no Congresso Nacional. Trata-se do documento “Tributar os Ricos para Enfrentar a Crise”.

Essa é uma forma de corrigir o sistema tributário regressivo vigente hoje no Brasil, reduzindo, assim, as desigualdades existentes. Suas principais propostas podem ser resumidas em taxar mais os mais ricos, o capital e as grandes fortunas, dispositivos que já estão presentes na Constituição e que, portanto, não precisam da aprovação de emendas à CF para serem implementados.

Paulo Kliass, que é doutor em economia e participa ativamente dessa discussão, explica, em artigo para a Carta Maior, que é importante desfazer o equívoco de que reformar o sistema tributário significa, necessariamente, reduzir impostos.

“O sistema de organização social e econômico previsto em nossa Constituição é um mínimo de garantia de vida digna para maioria de nossa população. E para que ele funcione de forma adequada são necessários recursos a serem recolhidos sob a forma de tributos. Assim, a Reforma deve conceber um modelo que assegure esse conjunto de direitos e promova maior justiça fiscal. Isso significa fazer com que os setores que sempre foram beneficiados pela isenção, pela desoneração e pela não existência de tributos em algumas atividades passem a contribuir de forma solidária”, diz.

Glossário

*PEC – Proposta de Emenda à Constituição

*Tributo: conjunto de impostos, taxa e contribuições que formam a receita de cada estado e do distrito federal. Imposto: valor imposto pelos contribuintes para o funcionamento do serviço público. Taxa: tributo cujo fato gerador é uma atuação estatal específica.