Servidores alertam que gabarito do Enem foi alterado indevidamente
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Servidores alertam que gabarito do Enem foi alterado indevidamente

O Enem 2020 (Exame Nacional do Ensino Médio) foi realizado em dois dias, em janeiro e fevereiro de 2021, em meio a uma série de polêmicas por causa da pandemia e também dos comentários negativos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro, que acusa o exame de “doutrinação esquerdista”. Além disso, esta edição bateu o recorde de abstenções, com mais de 60% de ausentes no primeiro dia de prova.

No dia da divulgação do gabarito, o Inep, órgão responsável pela fiscalização da prova, foi avisado de que este havia sido alterado para mudar as respostas corretas de duas questões que tratavam de racismo.

Segundo os servidores, o órgão ignorou a denúncia e só alterou o gabarito novamente depois da repercussão negativa nas redes sociais, no dia 28 de janeiro.

O gabarito adulterado apontava como correta a alternativa que considerava a decisão de uma mulher negra de não querer alisar os cabelos como uma “postura de imaturidade”. A pergunta fora elaborada tendo como resposta certa a que identificava o comportamento da mulher como “atitude de resistência”.

A outra questão que teve a resposta adulterada apontava que discriminação racial em sistemas de inteligência artificial, como buscas do Google, estaria relacionado à linguagem. A elaboração original da prova apontava a resposta certa como sendo relacionada a preconceito.

Como é feita a prova do Enem

As questões do Enem são feitas por professores e especialistas de todo o Brasil, depois são respondidas por milhares de alunos em uma prova-teste, e só então são encaminhadas ao Inep, onde ficam em um banco para que possam ser usadas futuramente. Sendo assim, seus gabaritos estão prontos muito antes da realização das provas.

Todas as questões foram avaliadas e revisadas antes de as provas irem para a gráfica, e os especialistas não encontraram nenhum erro.

“Os itens que compõem o Enem 2020 foram elaborados com os gabaritos corretamente publicados [até a alteração indevida], de modo que nunca exploraram qualquer abordagem preconceituosa e discriminatória”, diz o ofício.

Após a notificação de erro, o Inep informou que se tratava apenas de uma “inconsistência”, sem explicar porque os erros se encontravam justamente nas questões que tratavam de racismo.

Alerta foi possível graças à estabilidade dos servidores

Esse caso é mais um exemplo de como a estabilidade do servidor público é importante para que os serviços prestados à população não sofram interferência política e ideológica. Se não fosse o aviso dos servidores, provavelmente, o Inep não teria corrigido o gabarito.

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Bolsonaro, desde o começo de seu governo, tem acusado o Enem de “doutrinação esquerdista” e desmoralizado a prova, por isso, os responsáveis pela realização da prova temiam uma interferência do governo nesse sentido.

Em 2019, o Inep criou uma comissão para ‘censura ideológica” das perguntas que estão no banco de itens. A comissão vetou 66 perguntas avaliadas como “abordagens controversas” ou “teor ofensivo”. Bolsonaro chegou a declarar que o banco continua “perguntas ridículas” de governos anteriores.

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