Mídia privilegia discurso favorável à Reforma Administrativa, mostra estudo
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Imprensa privilegia discurso a favor da Reforma Administrativa, mostra estudo

A cada dez fontes que falam sobre a reforma administrativa na imprensa, 9 são a favor

Estudo feito pelo Que Estado queremos? mostra o viés predominantemente favorável à Reforma Administrativa presente no discurso da imprensa brasileira. Entre as fontes noticiosas, articulistas e colunistas que se posicionaram sobre a proposta, 87,88% se mostraram a favor ou parcialmente a favor.

Foram analisadas as fontes de informação utilizadas pelos jornais que mais produziram conteúdo sobre a PEC 32/2020, de 01 a 13 de setembro de 2020, quando a PEC foi enviada ao Congresso. São eles Folha de S. Paulo, Estadão e Valor Econômico.

A pesquisa mostra ainda que há um domínio do recorte econômico para explicar o todo. Ou seja, a Reforma Administrativa, temática complexa que perpassa a prestação de serviços públicos em todos os âmbitos para a sociedade, é vista majoritariamente no campo da economia, sem espaço para abordagem mais integral da administração pública. Os dados mostram que 51,95% das fontes de informação utilizadas no período estão em editorias de economia e que as categorias Governo, Parlamentares e Economistas dominam 54,6% do espaço midiático discutindo a Reforma Administrativa pelo viés exclusivo dos gastos públicos.

Número de vezes que cada categoria de fontes foi usada nos textos

O estudo foi feito por meio da pesquisa do termo “Reforma Administrativa” no mecanismo de busca interno dos próprios portais. Foram descartados da análise conteúdos que fossem versões reduzidas de notas jornalísticas anteriores, espaço do leitor e matérias em que a Reforma Administrativa não fosse o foco central. Ao todo, foram 139 conteúdos analisados, nos quais foram identificadas 256 fontes.

As fontes foram identificadas conforme seu posicionamento em relação à PEC 32/2020: a favor; parcialmente a favor; contra; parcialmente contra; não se aplica; não declarou. Aqueles classificados como “Parcialmente a favor” defendem a ampliação do alcance da PEC 32 no que diz respeito aos servidores públicos atuais e a proposição de regras mais duras do que as que estão previstas no texto da proposta. A classificação do discurso “Parcialmente contra” compreende aqueles que não se opõem a uma Reforma, mas não com o foco adotado pela PEC 32.

Fontes mais utilizadas

Entre as fontes mais utilizadas na cobertura da PEC 32 estão: o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (6,64%); Gleisson Rubin, secretário-adjunto de Desburocratização, Gestão e Governo Digital (5,07%); Caio Mario Paes de Andrade, secretário do mesmo órgão (3,90%); o Ministro da Economia, Paulo Guedes, (3,51%); a economista Ana Carla Abrão (2,9%); e o então secretário de gestão Wagner Lenhart (2,2%). Todos eles são favoráveis ou parcialmente favoráveis à Reforma.

Essas fontes também têm função de definidor primário da notícia, isto é, em uma hierarquia de credibilidade, têm maior poder político ou econômico e, consequentemente, tendem a ter a sua narrativa mais aceita, mesmo em situações controversas.  

A instituição que mais vezes foi fonte sobre a Reforma é o Ministério da Economia (20,31%), seguido por Câmara dos Deputados (14,45%), Senado (7,42%), Ipea (3,12%) e Oliver Wyman (3,12%). Dessas instituições, as fontes se posicionaram a favor em 60,54% e parcialmente a favor em 16,01%. Contrárias, somente 7,42% e parcialmente contrárias, 3,12%.

Discurso favorável predomina

Se descartadas as fontes que não declararam posicionamento ou que não se aplicam, 69,50% se posicionam a favor da PEC 32/2020, 18,38% se posicionam parcialmente a favor; 8,52% se posicionam de forma contrária e 3,58% parcialmente contrária. Apenas a categoria “servidores públicos”, com seus 4,68% de ocupação midiática, pende para o discurso contra a reforma, com 61%.

Verifica-se, assim, a necessidade de diversificação do discurso referente à PEC 32/2020. Caso contrário, espaços relevantes e credíveis acabam por reduzir a pluralidade e a diversidade de opiniões, validando a proposta a partir de uma mesma abordagem enviesada e que olha apenas para a face econômica e fiscal do serviço público e do Estado.

Essa abordagem não abrange a complexidade do serviço público e termina por estereotipar o funcionalismo como privilegiado e um peso para o país, quando dados não indicam isso. Ao restringir a discussão, o jornalismo afasta a população de um assunto que é de seu interesse, já que afeta diretamente a qualidade e a capacidade do Estado em prestar serviços e políticas públicas.